Depois de um pouco mais de um mês de espera desde a minha primeira experiencia com a demo de Blazing Chrome no Festival Retro Games Brasil, finalmente o jogo ganhou a luz do dia na data de 11 de julho de 2019 para todas as plataformas disponíveis. Publicado pela Arcade Crew e desenvolvido pela brasileiríssima Joy Masher, conhecida e bastante elogiada pelos fãs de jogos em pixel art através dos grandes títulos como Oniken (2012) e Odallus (2015), dessa vez, irá agradar e muito aos entusiastas do bom e velho Run and Gun baseado nos sistemas de quarta geração dos consoles.
Torrando Cromo!
Se por acaso você não viveu em Marte nos últimos 30 anos, com certeza irá reconhecer a principal homenagem presente nesta obra pixelada: Os filmes da franquia Exterminador do Futuro. O jogo é ambientado no ano de 21XX d.C num futuro pós-apocalíptico causado pela guerra nuclear contra as máquinas que desenvolveram inteligência própria, assim como em Terminator (1985).
O enredo simples e cru cumpre muito bem o seu papel de nos apresentar a guerreira Mavra, que muito se assemelha a própria Sarah Connor, só que com ombreiras típicas de filmes pós-apocalípticos dos anos 1980 (e que realmente não poderiam ter ficado de fora!! ehehe) e o robô de moicano vermelho estilo brucutu Doyle que lembra bastante o robozinho Browny de Contra Hard Corps (1994) do Mega Drive, só que com esteroides. Somando aos dois protagonistas, temos também dois personagens secretos: o ninja Raijin e a ciborgue Suhaila que são adicionados assim que o jogador termina o jogo pela primeira vez em qualquer dificuldade.
Correndo e atirando!
A sua jogabilidade é bem simples e se parece bastante com os demais jogos da própria franquia Contra, principalmente com o Contra Hard Corps que aparentemente foi a sua maior influência em quase todos os aspectos. Como em todo bom e velho Run’n’Gun, temos o principal comando de atirar com a arma inicial já no modo auto fire, outro para o salto, um para travar o personagem e mirar livremente e por último um comando para a troca de armas. O jogo inicialmente conta com dois níveis de dificuldades já liberados, que irão agradar os jogadores mais iniciantes e os mais veteranos no gênero, porém a dificuldade Hardcore só poderá ser acessada quando o jogo for terminado na dificuldade Normal, assim como o modo espelhado e o obrigatório modo Boss Rush.
Além de homenagear a série Contra em sua jogabilidade simples e funcional, como foi citado acima, podemos adicionar também tantas outras referências. Como por exemplo, as fases da “motinha” conhecidas já na franquia Contra, mas em uma delas temos também uma sequência de obstáculos que me pareceu muitíssimo com o clássico Battletoads (1991). No quesito veículos, a jogabilidade da montaria robótica ficou bem semelhante a Metal Slug (1996) e por último, a bela sequência de voo num túnel tubular utilizando um exoesqueleto no melhor estilo Rail Shooter, que me lembrou bastante o obscuro Accele Brid (1993) do Super Famicom.
Dentre as quatro armas disponíveis para os dois protagonistas temos as três que só são encontradas em capsulas espalhadas pelo cenário e que as vezes caem de para-quedas do céu. São elas, o lança granada devastador, a arma de feixe de partículas que pode ser carregada para um ataque mais potente e uma arma giratória de cor rosa que lembrou outra já vistá na franquia Contra, que é inclusive muito eficaz contra os inimigos alados que requerem uma mira bem precisa. Infelizmente não foram adicionadas bombas no inventário dos personagens, mas sim, somente alguns explosivos localizados estrategicamente nos cenários.
Em relação aos movimentos especiais, temos uma roladinha que, devido ao seu alto alcance na tela, poderá ser um dos vários motivos de morte do personagem. Confesso que comecei a utilizar esse movimento achando que seria igual ao Contra Hard Corps e me dei mal, pois aqui a roladinha não destrói e nem faz passar através dos inimigos, o que me pareceu estranho e um pouco frustrante, mas deve ter sido pensado a fim de manter a dificuldade do jogo nas alturas (tal roladinha ganhou a habilidade de passar através dos inimigos sem tomar dano graças a uma atualização no dia 12/08/2019)! Além da roladinha, os personagens secretos também possuem uma esquiva aérea que, se usada corretamente poderá ser de muita ajuda.
Outra característica interessante foi à adição de ataques poderosos a curta distância (melee), assim que o inimigo se aproxima do personagem, como também acontece na franquia Metal Slug. O único problema que notei em relação a esse movimento, foi de que, as vezes ele não funciona quando o inimigo chega pela diagonal (tal ataque também foi melhorado na atualização do dia 12/08/2019).
Em se tratando dos personagens extras, a jogabilidade é focada somente em ataques diretos, assim como em Strider, só que com a possibilidade de segurar o botão de ataque no tempo certo para lançarmos uma rajada poderosa. Existem três tipos de robôs ajudantes que funcionam como “options” típicos dos jogos de Navinha, que adicionam habilidades extras ao jogo, como o escudo, a ultra velocidade e pulo duplo e o ataque em dobro.
Infelizmente notei dois pequenos bugs: o primeiro foi sobre a capsula de upgrades que quando cai na fase da moto, muitas das vezes acaba não funcionando no personagem (Bug corrigido na atualização do dia 12/08/2019); já o segundo bug é sobre o número de vidas que, vez ou outra, não decresce quando o personagem morre, o que me pareceu um bug favorável ao jogador menos habilidoso. Outro detalhe infeliz para mim e que não posso deixar de citar é, sobre o Score (placar) que não é penalizado quando se utilizam continues, deixando assim o jogo inviável para quem gosta de competições por pontuação.
Gráficos e sonoridades!
É impossível não notar a beleza gráfica da obra, pois ela me fez relembrar totalmente o Contra Hard Corps do Mega Drive (principalmente pela paleta de cores). Efeitos de zoom, explosões e chefes que ocupam a tela inteira, estão muito bem presentes para o nosso deleite. E como não poderia deixar de mencionar novamente, a fase Rail Shooter que além de espetacular, funcionou muito bem como variedade de game play.
Os efeitos sonoros muitas vezes parecem ter saído diretamente do chip de áudio da Yamaha usado no Mega Drive e em tantas placas de arcades da década de 1980 e 1990, conferindo assim, uma sensação muito nostálgica. O próprio som de quando o personagem Doyle morre, ficou quase igual ao som de quando se morre em Metal Slug. E o que dizer da trilha sonora? Realmente foi um dos pontos mais altos do jogo, pois é focada nos sons eletrônicos dos sintetizadores típicos dos anos 1980, diferentemente do Contra Hard Corps que é mais focado em uma mistura de Heavy Metal com música eletrônica dos anos 1990.
Resumindo!
Somando todos os pontos positivos e negativos deste grande jogo da Joy Masher, podemos concluir que foi um produto artístico feito por quem realmente entende, gosta e principalmente joga e consume este gênero de jogo que, felizmente está voltando a tona graças ao também excelente CupHead (2017) já há alguns anos.
Pessoalmente, analisando os outros jogos anteriores do estúdio, é possível traçar um paralelo com as obras do consagrado cineasta Quentin Tarantino. Escrevo isso porque temos aqui, um jogo atual que homenageia de forma divertida e inteligente muitos dos jogos e ícones culturais que acabaram sendo esquecidos com o tempo, assim como o próprio cineasta citado faz com seus filmes. Blazing Chrome é altamente recomendável para os aficionados por altos desafios e também aos que adoram dissecar, conhecer, assistir e jogar cada conteúdo cultural referenciado no jogo.
Prós:
- Ação frenética e desafiadora
- Jogo punitivo e ao mesmo tempo gratificante e viciante
- Impecável direção artística e trilha sonora memorável
- Grandes homenagens usadas de forma inteligente
Contras:
- Alguns pequenos Bugs que podem ser corrigidos com uma simples atualização (Bugs corrigidos em uma atualização no dia 12/08/2019)
- Falta de finais diferentes
- Movimentação da rolagem um pouco frustrante (Melhorado na atualização do dia 12/08/2019)
- Pouca variedade de armas e de diferenciação de movimentos entre os diversos personagens
Nota Final: 9,0 de 10,0
Observação: Essa análise foi escrita a partir da jogatina das versões presentes na Steam e no XBox Game Pass, ambos para PC.
Atualização: Como citado no texto, houve uma atualização no dia 12/08/2019 que corrigiu a maioria dos bugs e implementou diversas melhorias, porém tal update ocorreu somente na Steam e não na versão do XBox Game Pass. Infelizmente não poderei comentar sobre as versões da PS4 e do Nintendo Switch, pois não as possuo.
Links Úteis:
Minha análise em vídeo para o Blazing Chrome:
Meu vídeo terminando Blazing Chrome sem perder continues no modo Normal:
Vídeos sobre o Blazing Chrome no Canal da Comunidade Mega Drive:
Revisão de texto: Bruna Chaves