Inhuman Resources é uma experiência narrativa interativa que mistura horror psicológico com críticas sociais profundas. Com elementos que lembram livros como 1984 e ambientes corporativos reais, o jogo transforma a leitura em um mergulho intenso na ética e nas decisões humanas. Desenvolvido pela Finnegan Motors, o título desafia o jogador a descobrir até onde alguém pode ir em busca de estabilidade financeira. Mesmo com uma duração relativamente curta, entre 4 e 5 horas, a jornada oferece múltiplos caminhos e finais, garantindo um alto valor de replay.
A seguir, exploramos os principais elementos que fazem de Inhuman Resources uma obra única dentro do gênero de jogos baseados em texto. Desde sua história envolvente até os aspectos visuais e sonoros, tudo contribui para uma experiência instigante e repleta de tensão. Descubra por que esse jogo pode surpreender até os jogadores menos acostumados com narrativas interativas.
História – Bem-vindo à família SMYRNACORP!
A trama de Inhuman Resources começa com uma situação que muitos conhecem bem: o desespero após meses sem conseguir emprego. De forma súbita, surge uma oportunidade aparentemente perfeita em uma empresa chamada SMYRNACORP. Com um grande contrato prestes a ser fechado, a empresa está desesperada para contratar alguém o quanto antes. Mas algo parece estranho desde o primeiro contato.
Durante o processo seletivo, pequenas pistas indicam que a empresa esconde mais do que promete. Ao aceitar a vaga, o personagem principal entra em um ambiente onde decisões éticas e morais são testadas a cada instante. A SMYRNACORP, que se apresenta como uma gigante inovadora em recursos humanos, tem um significado bastante distorcido para esse termo. Cabe ao jogador desvendar os segredos da empresa enquanto tenta sobreviver à rotina opressiva, respeitando cláusulas de confidencialidade e entregando resultados excepcionais.
Além disso, a narrativa aborda temas como manipulação, ambiguidade moral e a luta interna por manter a sanidade. Cada escolha molda o rumo da história, podendo levar a revelações sombrias ou a reviravoltas inesperadas. A linha entre liberdade e escravidão corporativa é tênue, tornando a experiência inquietante e reflexiva.
Jogabilidade – Quebra-cabeças, escolhas e agressividade passiva
A jogabilidade de Inhuman Resources se destaca por transformar leitura em interação. O foco está totalmente na narrativa, mas as decisões e os enigmas tornam tudo mais imersivo. O jogador precisa explorar ambientes por meio de descrições em texto, ler documentos, resolver quebra-cabeças e tomar decisões que afetam diretamente o rumo da história. As interações são simples, porém significativas. Um sistema de botões oferece opções de leitura detalhada de cada ambiente, e cada ação pode esconder consequências importantes.
Os quebra-cabeças, embora não sejam extremamente difíceis, cumprem bem o papel de enriquecer a narrativa. Alguns permitem apenas uma tentativa, o que adiciona tensão e obriga o jogador a pensar com cuidado. O sistema de decisões exige que o botão da escolha seja pressionado e mantido, o que evita cliques acidentais e proporciona um momento de reflexão antes do comprometimento.
As decisões possuem peso moral e impactam não apenas a história, mas também as habilidades do personagem, os traços de personalidade e os caminhos disponíveis. Algumas respostas aparecem apenas se certas condições forem atendidas, como possuir itens específicos ou características ativadas. Essa dinâmica amplia o potencial de rejogabilidade, já que múltiplos finais podem ser desbloqueados com base nas ações ao longo da jornada.
Gráficos e Som – Menos imagens, mais imersão
Visualmente, Inhuman Resources se afasta das visual novels tradicionais. A interface minimalista utiliza um fundo branco com listras douradas que se tornam avermelhadas em momentos de tensão. Ilustrações são escassas e aparecem apenas em cartas de decisão, expressões faciais ou alguns objetos importantes. Ainda assim, essas imagens transmitem bem a emoção da cena e ajudam a complementar a atmosfera do jogo.
Durante certas partes, vídeos granulados em preto e branco são usados com parcimônia, adicionando um toque misterioso e nostálgico. O foco, no entanto, continua na imaginação do jogador, o que pode afastar quem prefere uma experiência mais visual. Além disso, a limitação de idiomas — apenas inglês e francês — pode restringir o alcance global do título.
Por outro lado, o design sonoro surpreende. A trilha sonora é sutil, reforçando o clima tenso e contribuindo para a imersão. O silêncio também tem seu papel, criando momentos de suspense intensos. Quando os personagens “falam”, há amostras de voz que não dizem nada específico, mas sugerem o tom da fala, estimulando a imaginação do jogador. Essa abordagem reforça a proposta de um “livro jogável” com elementos audiovisuais sutis.
Estrutura narrativa – Uma leitura interativa de verdade
Inhuman Resources funciona como uma obra literária jogável. A história avança em capítulos, representando os dias do personagem na SMYRNACORP. Essa estrutura oferece pausas naturais, permitindo sessões de jogo curtas ou longas conforme a preferência do jogador. A narrativa mantém um ritmo consistente, mesmo nas partes intermediárias que costumam ser mais lentas em outros jogos.
A progressão baseia-se em um sistema de habilidades não convencional. Ao tomar determinadas ações, o jogador desbloqueia traços e pontos de habilidade que influenciam escolhas futuras. As opções visíveis incluem também aquelas que não podem ser selecionadas, mostrando claramente o que foi perdido e incentivando múltiplas jogadas. Esse sistema sugere fortemente um alto valor de replay.
Itens coletados, cartas e documentos compõem um inventário rico em detalhes. Esses elementos aprofundam o enredo e revelam informações essenciais sobre os bastidores da empresa. Mesmo com uma abordagem simples em termos visuais, o jogo consegue transmitir emoções e conflitos complexos com eficácia, graças à qualidade da escrita e à construção de personagens principais e secundários bem definidos.
Conclusão
Inhuman Resources propõe uma experiência intensa, reflexiva e inquietante. Apesar da simplicidade visual, o jogo oferece uma profundidade narrativa que poucos títulos conseguem alcançar. As decisões carregam peso real, moldando tanto o personagem quanto o desfecho da história. Ao unir crítica social, horror psicológico e mecânicas bem implementadas, o jogo conquista espaço entre os melhores do gênero.
Embora não reinvente completamente a leitura interativa, Inhuman Resources entrega uma história envolvente do início ao fim. A estrutura capitular, os diversos finais possíveis e os dilemas morais garantem uma experiência única a cada jogada. Mesmo sem dublagem tradicional ou visuais elaborados, o jogo prova que uma boa narrativa continua sendo uma das formas mais poderosas de prender a atenção do público.
Recomendado para quem aprecia decisões com consequências, textos bem escritos e narrativas sombrias. Prepare-se para explorar os segredos da SMYRNACORP — e, com sorte, sair de lá com a mente intacta.
A Comunidade Mega Drive recebeu uma chave para o review do jogo.
