O texto abaixo foi publicado no Jornal O Globo, em 13 de Maio de 1991 sobre o Mário e uma comparação com a Xuxa.
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Em toda casa que tem videogame certamente os pais já ouviram as crianças falarem num tal de Mário. O quê? Não, não tem a ver com aquele outro que se envolve com armários e tem um primo chamado Lôcha que por sua vez tem outro parente de um nome mais feio.
Mário, mesmo com esse nome italiano, é simplesmente a mina de ouro do maior fabricante de consoles e cartuchos de games do mundo, a japonesa Nintendo. É o herói/bonequinho/personagem mais popular não só da nova geração de gamemaníacos como de toda a história dos videogames até hoje.
Mário (e o seu irmão Luigi), protagonizam os jogos campões absolutos de vendas no Planeta, a série Super Mario Bros., que já está na terceira versão e somados já venderam mais de dez milhões de cópias (comparável, por exemplo, com as vendas do disco “Thriller”, de Michael Jackson, o recordista de vendagens da história; e com “E.T.”, de Spielberg, em bilheteria).
Mário é um trabalhador que muda de função de acordo com o jogo. Ele é um misto de pedreiro, encanador e chaveiro do Reino dos Cogumelos, que está sempre ocupando tentando salvar ora o reio, ora a princesa local de algum problema.
No primeiro jogo ele é meio headbanger, dando cabeças a torto e a direito em blocos de tijolos; no segundo ele também faz arremesso de rabanete e bichos; e no terceiro ele consegue o dom de voar comendo uma folha cor de vinho e se transmutando numa espécie de castor.
Mas Mário conseguiu tanta projeção nos joguinhos que a Nintendo passou a utilizar sua figurinha em outros títulos. Ele pode ser encontrado, por exemplo, em Wrecking Crew, como um pedreiro cuja missão é desmantelar blocos e paredes de forma que não deixa nada em pé (inclusive as escadas) e ainda consiga escapar de uns monstrinhos. Ao total ele tem de trabalhar em 100 construções diferentes que nunca se repetem.
Outro jogo no qual ele é apenas um mero coadjuvante é o Pinball, no qual Mário aparece apenas na tela 3, fora da mesa do jogo. A tela 3 é uma zona bônus, e lá o jogador tem de fazer com que Mário crie sequências de cores em três fileiras numéricas para que assim ele consiga salvar uma mocinha que fica correndo desesperada no alto de uma plataforma. Se consegue o intento, os números do jogo mediamente duplicam.
Mas a força e o carisma de Mário foram tão fortes que ele, num feito inédito no meio dos games, vai se transformar em um filme, num personagem de carne-e-osso interpretado por Danny DeVito (quem leu o primeiro número do Informática etc. sabe tudo em detalhes).
Fora isso, ele já é uma figura principal de uma revista em quadrinhos lançada pela Nintendo e ainda está presente numa linha de bugigangas e parafernálias que aos poucos já estão chegando também no Brasil (os camelôs, sempre na frente, já exibem algumas coisas por si).
A mais recente investida de Mário é num joguinho tipo quebra-cabeças que se parece uma versão para crianças do interessante jogo soviético Tetris, o Dr. Mario, no qual nosso simples operário é promovido a médico e tem que fazer caber, por encaixe, várias pílulas num vidro.
Mas não é só isso que ele tem de fazer. Como num tipo de dominó, Mário tem de encaixar os lados das cápsulas (de várias cores) com sua respectiva combinação, e para cada quatro sequência de cores ele ganha mais espaço.
Mas o que faz o jogo mudar de fase é a exterminação de vírus que ficam em cantos estratégicos do vidrinho, que para morrerem também tem de ser atingidos por cápsulas que obedecem o mesmo padrão de cores.
Vocês acreditam que os americanos implicaram com esse jogo porque acharam que ele induziria as crianças a tomarem os remédios em casa?
Fonte: O Globo, edição de 13 de maio de 1991.