As vezes precisamos sair do ciclo de jogos eletrônicos que nos levam a ter surtos de adrenalina o tempo todo. Call of Duty, Need for Speed, Super Mario, são ótimos jogos para os seus gêneros e que nos levam a níveis de emoção entre raiva, desespero e senso de algo que nos completa. Mas existe uma outra parte dos videogames que nos fazem pensar e The Invencible é um dos títulos que se incluem aqui.
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O espaço é vasto, e somos tão pequenos
Sempre fui um fã da ficção científica, desde as histórias mais leves como “De Volta para o Futuro“, até tramas complexas como “2001 – Uma Odisseia no Espaço“. A ficção científica, para mim, é a melhor forma de explorar as facetas da humanidade e de como podemos nos encaixar no futuro ou em realidades alternativas.
Quando se trata de jogos eletrônicos, posso citar títulos como Out of This World, Flashback, Borderlands, Deus Ex, Bioshock, SystemShock, DOOM, Life is Strange, FrostPunk, Shadowrun e Sunless Sea, como exemplos que exploram bem a narrativa da ficção científica e suas múltiplas facetas.
The Invincible nos coloca em uma narrativa onde visitamos um planeta chamado Regis III, com a missão de procurar colegas desaparecidos após um fenômeno ocorrido enquanto estavam explorando o planeta. A personagem principal, a astrobióloga Yasna, se vê obrigada a ir a Regis III e com a ajuda do astronavegador Novik passa por poucas e boas na procura de seus amigos e os mistérios do planeta.
Ao controlar a personagem, você se vê num local inóspito, belo e enigmático. Onde, segundo dados de estudos de longa data, era para o planeta ser cheio de vida, mas ao chegarem lá, só encontraram um gigantesco deserto com vastos oceanos.
Percorrendo o cenário alienígena de Regis III, a sensação de grandiosidade foi muito bem trabalhada e se não fosse a constante comunicação com Novik, a solidão que já é gigantesca durante a jogatina, seria uma constante. E isto num local onde a personagem é obrigada a ficar continuamente usando uma roupa de astronauta para não sofrer de problemas de intoxicação caso respirasse a atmosfera do planeta.
A vida é um mistério e não sabemos nada sobre ela
A narrativa do The Invencible é extremamente suave. Não há choques ou plot twists rápidos, como em alguns jogos. A história segue um ritmo mais parecido com um livro do que com um filme ou seriado, correndo contra o tempo.
Este é um tipo de jogo que precisa ser experimentado com parcimônia, principalmente devido às escolhas das falas, que podem mudar as possibilidades dos eventos no roteiro do jogo.
O título nos coloca na estranha posição de Yasna, que tenta entender como a vida evoluiu no planeta, algo completamente diferente da Terra.
O entendimento biológico sobre as evoluções em outros planetas na Via Láctea é algo que a ciência humana pode interpretar até certo ponto. As especulações de Yasna se encaixam bem nesse conceito, mostrando como não podemos ter certeza de absolutamente nada sobre a evolução da vida, da química ou da física em outros locais da galáxia.
A narrativa do que acontece no planeta é didática e mesmo aqueles que não são versados em biologia vão entender o que ocorre durante a história.
A Exploração precisa seguir um caminho
O jogo oferece certa possibilidade de exploração, porém limitada ao cenário e aos eventos que desencadeiam a história de The Invencible. Apesar das escolhas e da exploração parcial do ambiente, o jogo é linear. Isso não é necessariamente negativo, já que é descrito como uma narrativa ramificada com ênfase nas escolhas do jogador, conforme o diretor. Se você jogou títulos como Life is Strange, entenderá a linearidade. Ainda assim, a experiência continua empolgante, enquanto buscamos desvendar os mistérios de Regis III.
A suavidade em sua trilha sonora
A trilha sonora do jogo é elegantemente composta para se integrar perfeitamente ao cenário em que nos imergimos. Como o jogo explora um planeta pacífico – sem toques de terror em nenhum momento -, a música transmite uma sensação de “Sinta o espaço ao seu redor. Eu sei que é vasto, mas é algo maravilhoso, não há necessidade de medo.”
Não há uma única palavra que descreva adequadamente a composição musical do jogo. Ela não cria tensão, mas sim um ambiente confortável e relaxante, como um passeio no parque, apesar de estar em um planeta desconhecido.
Esse sentimento é tão forte que em alguns momentos Yasna até canta uma melodia, talvez para acalmar a si mesma e ao jogador, tornando a solidão algo mais suportável e controlável.
Conclusão
The Invencible não é um jogo para os caçadores de adrenalina, nem para os que buscam conforto mental ou uma conclusão definitiva para a história. Assim como o livro mais conhecido de Stanislaw Lem, Solaris – que trata de como a percepção de comunicação pode ser completamente dissonante entre duas raças que nunca se encontraram antes – temos o livro The Invencible, do qual o jogo se baseia, a narrativa não busca explicações, mas sim suposições e a interseção de elementos fantásticos e por vezes alienígenas demais para serem completamente compreendidos pelo ser humano.
Como mencionei anteriormente, sou um grande fã de ficção científica, e The Invencible saciou minha curiosidade ao explorar algo que muitas vezes escapa à definição e compreensão humanas.
Aqui, a exploração é a chave. Desde a insignificância dos seres humanos diante da vastidão da galáxia até a evolução dos sistemas solares e planetas completamente alheios à influência humana, seja científica, metafísica ou filosófica.
Somos apenas alguns grãos de areia em uma imensidão cósmica.
The Invencible pode ser adquirido no PC (Steam, Epic, GoG), PlayStation 5 ou XBoX Series.
A Comunidade Mega Drive recebeu uma key para a avaliação do jogo.