Se você está aqui lendo este pequeno artigo agora, certamente já deve ter ouvido ou lido em algum lugar que o controle original do Mega Drive, aquele de três botões, era obsoleto, um verdadeiro atraso e sem condição para ser usado nos jogos.
.
Vez ou outra acabo vendo ou escutando algo do tipo e fico boquiaberto com tal tipo de afirmação. Seria ela uma certeza absoluta? A SEGA realmente errou ao lançar o controle original do Mega Drive com apenas três botões de ação? Não teria sido melhor lançar algo com quatro, cinco ou até seis botões logo de cara?
Quando as empresas fazem os projetos dos futuros consoles a serem lançados, elas não têm toda a faca, queijo, manteiga, mortadela e ovo na mão. Elas têm ao seu alcance as informações do passado e do presente e, por conseguinte, trabalham em cima disso para criar seus futuros consoles.
Às vezes elas acertam bem, outras erram de uma forma completamente esperada. Vejamos o exemplo do Zeebo, um console criado pela TecToy em parceria com a Qualcomm. A aposta do Zeebo era ser um console totalmente digital – o que foi uma grande aposta, diga-se -, que usaria a rede móvel da Claro para permitir que as pessoas pudessem acessar a loja virtual do Zeebo, comprar seus jogos e baixá-los através do 3G.
O console brasileiro estava um passo à frente do PlayStation 3, do Wii e do Xbox 360. Não pelo uso da internet para comprar jogos digitais, mas por ser um dos primeiros consoles (ou talvez até o primeiro) a usar de forma completamente exclusiva sua loja virtual e, também, uma rede móvel.
E pensar que alguns anos depois, com o advento do PS4 e Xbox One, o paradigma entre jogos físicos e digitais começou a mudar para o lado digital. O Zeebo acertou de um lado, mas seu preço, jogos feios e baixa adesão das desenvolvedoras acabaram por matar o console brasileiro.
Aí voltamos ao caso do controle original do Mega Drive, onde o mesmo só conta com três botões de ação (A, B, C). Muitos dizem que isso limitou o lançamento de muitos títulos para o Mega Drive, só que isso é uma verdadeira inverdade.
O console de 16 bits da SEGA teve seu desenvolvimento iniciado após o lançamento do Master System no Japão, por volta de 1986. Naquela época, a maioria dos jogos que saíam para o NES (Famicom) e Master System usavam apenas dois botões, assim como a grande maioria dos jogos de arcades.
Durante a segunda metade dos anos 1980, eram poucos os títulos que chegavam a usar três botões e eram ainda mais raros os jogos que tinham em suas configurações acesso a quatro botões de ação. Então foi algo natural para a SEGA ou continuar usando apenas dois botões, para seguir os controles do Master System, ou incrementar um ou até mesmo dois botões a mais de ação. A empresa acabou optando por ter um botão a mais.
E aí que muitos dizem que foi o grande erro da SEGA. Ah, Street Fighter 2 usa seis botões! Mortal Kombat usa cinco botões! Fatal Fury usa quatro botões! Prestem atenção aqui no andamento da reclamação sobre a falta de botões.
Quando foi que o Mega Drive foi lançado? Outubro de 1988. Quando foi que saiu Street Fighter 2? Março de 1991! Mortal Kombat? Outubro de 1992! Nem vou colocar aqui a data de Fatal Fury…
Mas, mas, mas… Street Fighter 1 foi lançado em 1987! A SEGA poderia ter percebido que… pode ir parando aí gafanhoto. Street Fighter 1 saiu antes do Mega Drive, sim, mas os controles do jogo tinham botões baseados em pressão. O botão analógico ou gatilho só veio a ser usado quase uma década depois nos consoles, primeiro foi o Dreamcast com os gatilhos analógicos e 1 ano depois veio o PlayStation 2 com os botões sensíveis a pressão.
Daí, neste argumento do Street Fighter 1, poderia tirar que a SEGA errou em não colocar quatro botões de ação no controle original do Mega Drive. Só que aqui temos um porém, Street Fighter não foi um jogo de enorme sucesso no Japão e, a partir deste ponto, por que a SEGA iria mudar seu projeto por causa de um só jogo?
Como dito acima, as empresas criam seus consoles com dados e informações DO PRESENTE. E não fazem futurologia. Do momento que o Super Famicom foi concebido, provavelmente algum tempo depois do Mega Drive. Durante muito tempo do seu desenvolvimento, o Super Famicom iria ser retrocompatível com o Famicom, então os botões B e A foram mantidos. A soma dos botões Y e X vieram algum tempo depois para dar mais espaço aos desenvolvedores para criarem uma nova forma de jogatina.
E, na verdade, estou atrás de maiores informações do projeto do Super Famicom para entender melhor o porquê da adição dos botões de ombro. Até agora não consegui achar nada concreto.
Agora, é só prestar atenção, muitos dos jogos do Super Famicom usam apenas três botões, são poucos que usam os quatro botões de ação e raros são aqueles que usam os quatro botões de ação e os dois de ombro, pois os jogos, muitos deles de plataforma ou corrida, só precisavam de dois ou três botões, a mesma coisa acontecia com o Mega Drive, que raros vieram a ser os jogos que precisavam DE FATO do controle de 6 botões, pois ele não era o controle base do 16-bit da SEGA.
Quando os jogos de luta viraram os hits do momento, principalmente da Capcom, aí sim temos os controles sendo adaptados para esses títulos, como foi o caso do Sega Saturn e do PSX, mas que foi uma das derrocadas do 3DO e o do Atari Jaguar que escolheram caminhos estranhos para o design dos seus controles.
Desta maneira, de uma forma não aprofundada, dizer que o controle original do Mega Drive é um atraso, um erro da SEGA, é a maior furada, principalmente – mais uma vez – se analisar quando o console foi lançado e quantos botões os jogos de arcades daquela época eram usados. O erro está em quem profere essas palavras.
Atraso, um verdadeiro erro, mesmo foram os controles do Atari Jaguar e do 3DO, pois sendo lançados em meados de 1993 vieram com apenas três botões de ação! Esse povo da Atari e da 3DO Company, respectivamente estava bêbado enquanto desenvolviam os controles.