O antigo presidente da SEGA, Tom Kalinske, deu uma entrevista para o New York Times em 1993, onde falou um pouco sobre o 3DO que estava para ser lançado, assim como o mercado gamer estava em crescimento e que as empresas sempre precisariam se reinventar a cada ano. Segue a entrevista completa abaixo:
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Se Thomas J. Kalinske fosse um personagem de videogame, ele acumularia mais pontos do que o Sonic the Hedgehog. O Sr. Kalinske, presidente e diretor executivo da Sega of America Inc. de Redwood City, Califórnia, uma subsidiária da Sega Enterprises Ltd. do Japão, ingressou na fabricante de brinquedos Mattel como gerente de produto em 1973 e chegou à presidência da empresa em 1985.
Quando Kalinske assumiu o controle na Sega of America em 1990, a empresa de consoles e software de videogame ficava muito atrás da Nintendo, com vendas anuais de US$ 125 milhões. As vendas deste ano estão “um pouco abaixo de um bilhão”, disse ele, e o SEGA Genesis está superando em dobro a contraparte da Nintendo.
O jogo está apenas começando: no próximo ano, a Sega of America planeja lançar um capacete de “realidade virtual”, um canal interativo de TV a cabo (Sega Channel) e outras novas tecnologias. Esta semana, espera-se que lance versões de cartucho e CD-ROM de “Jurassic Park”, um jogo baseado no filme.
E não se esqueça da concorrência, especialmente de um estreante, a 3DO Company, e da Atari, ambas desenvolvendo sistemas avançados de jogos. No qual Kalinske tem uma opinião sobre.
Pergunta: Você disse que “Jurassic Park” é apenas um dos pelo menos oito títulos dos quais espera vender um milhão de cópias cada. A US$ 54,99 por cópia, esse negócio de jogos não é coisa de criança, não é?
Resposta: No ano passado, fizemos US$ 450 milhões em todo o mundo com um jogo, o Sonic 2. Isso é mais do que qualquer filme de sucesso, mais do que qualquer outra propriedade de entretenimento. É uma forma muito cativante de entretenimento. Acreditamos que temos boas chances de oferecer mais entretenimento por dólar gasto, por hora gasta, do que filmes ou televisão. Essencialmente, os vemos como nossa concorrência. Verá, vai querer passar mais tempo em “Jurassic Park”, o videogame, do que vendo “Jurassic Park”, o filme.
P: A Sega derrotou a Nintendo sendo a primeira a passar para jogos de 16 bits em vez de 8 bits. Você teme que a 3DO faça o mesmo com vocês com máquinas de jogos de 32 bits?
R: O lado arcade do nosso negócio está fazendo software de 32 bits há quatro anos, então temos uma biblioteca bastante extensa de jogos de 32 bits. Também sabemos mais sobre hardware de 32 bits do que quase qualquer um. Eu poderia fazer um sistema de hardware de 32 bits assim. [Estala os dedos.] O problema é que é muito caro agora. O verdadeiro desafio de engenharia é reduzir esse custo para que seja um produto de mercado em massa. Eu poderia fazer um hoje por US$ 100 a menos que a 3DO, mas não estou interessado nisso. Não estou interessado em US$ 200 a menos. Tem que ser uma unidade substancialmente mais barata.
P: Você não acha que as pessoas pagarão US$ 700 por uma máquina de jogos 3DO?
R: Essa é nossa visão. Talvez estejamos errados, mas achamos que é um produto de nicho a esse preço. Fizemos uma quantidade boa de pesquisas sobre isso. Os videocassetes tiveram que ultrapassar a barreira de preço de US$ 300 antes de se tornarem produtos de mercado em massa. Também somos um pouco céticos quanto à tecnologia em si. Francamente, não achamos que seja boa o suficiente. Então, garanto que, seja lá o que fizermos, será melhor do que o que estão fazendo atualmente, e será mais barato.
P: Enquanto isso, vocês já lançaram o Sega CD. Estão desenvolvendo o Sega VR, um dispositivo de realidade virtual que parece muito legal, e no próximo ano haverá o Sega Channel, para TV a cabo interativa. Não teme que em algum momento as crianças da América…
R: Esse é meu pesadelo! Um dia eles dizem, “Chega, não mais”.
P: Isso poderia acontecer?
R: Claramente, acontecerá se não nos reinventarmos a cada ano. A realidade virtual já mostramos. Há software especial para isso. É absolutamente viciante. Você coloca este capacete e…
P: O vício é bom?
R: É para nós. Brincadeiras à parte, não houve pesquisa suficiente feita, mas há uma quantidade justa de pesquisas que correlacionam o jogo de videogame e notas mais altas. As crianças muitas vezes se interessam por computadores através dessa porta de videogames. Acho isso realmente positivo.
P: Seus próprios filhos estão profundamente envolvidos em jogar jogos da Sega?
R: Não, eles são um pouco jovens. Na verdade, 70% dos nossos jogadores de Genesis têm mais de 12 anos. Realmente não somos mais um negócio infantil; somos um negócio para adolescentes e adultos. Oitenta por cento dos nossos jogadores de CD-ROM têm mais de 18 anos. Muitos homens adultos estão jogando CD-ROM. Acreditamos que venderemos de 800.000 a um milhão de sistemas Sega CD este ano. Se a sazonalidade for de 80% das vendas em novembro-dezembro, nossas vendas atuais apoiariam isso.
Fonte: NYT