Ahhhh, Tectoy.
Texto por Rodrigo Goniadis
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Estamos em 2023, século 21, prestes a entrar em 2024. Sabemos que muitas empresas já não são como eram na década de 80 e 90. Isso é normal; as coisas mudam, os objetivos mudam, a visibilidade muda, tudo muda. Os games, então, são um segmento que vive mudando constantemente, com lançamentos de jogos, compras de empresas, falências e a adaptação (ou não) de estúdios para os tempos atuais, entre outros fatores. A guerra entre Sony vs. Microsoft é uma prova disso.
A aquisição da Activision pela empresa de Bill Gates fez a gigante japonesa soltar faíscas e demonstrar insatisfação contra a compra, porém foi derrotada nos tribunais. A Nintendo, que era líder com jogos exclusivos no Nintendinho e Super Nintendo, e tinha a Sega como rival, não busca mais brigar pelo topo; agora visa agradar os japoneses (na verdade, sempre foi assim). Esses são exemplos de como as coisas mudaram drasticamente.
Mas e aqui no Brasil? Também mudou muito. A Tectoy foi uma dessas empresas. De vez em quando, ela tenta oferecer algo para o público que remeta àquela época em que representava a Sega no país. Vamos analisar os produtos vendidos em seu site: Controle Bluetooth da 8bitdo, Legends Core, Babá Eletrônica, Notebook Pense Bem, MiniPC Pense Bem, Fita LED Pense Bem, além de dois consoles retrô, o Master System Evolution e o Atari Flashback X.
Em 2017, a Tectoy lançou o Mega Drive com entrada para cartão SD, porém com muitos problemas no som de alguns jogos. Um fã chamado Neto corrigiu esses problemas e o console teve uma melhoria considerável com suas atualizações. Depois disso, a Tectoy percebeu que o cenário retrô já não era mais tão atrativo. O Mega Drive 2017 recebeu críticas do público e não vendeu conforme o esperado. Algumas empresas precisaram reduzir bastante o preço do console para esvaziar o estoque. Foi a partir daí que a mentalidade mudou, mesmo que ainda houvesse desejo de continuar com os jogos retrô.
A Tectoy tentou contato com a Sega para obter autorização de venda do Mini Mega Drive no Brasil. Resultado: sem resposta da empresa do Sonic (pelo menos é o que afirma o CEO da Tectoy, se é verdade ou não, é outra questão). Hoje, o carro-chefe da Tectoy não são mais os games retrô, decisão tomada após o Mega Drive 2017 não alcançar as vendas planejadas. Mas por que uma parcela significativa do público ainda sonha com um Mini Dreamcast, Mini Master System, Saturn com SD, Dreamcast com SD, etc.? Mesmo sabendo que os tempos são outros, por que acreditar que a Tectoy lançará, mais cedo ou mais tarde, um console da Sega? Isso tem um culpado: a própria Tectoy.
Eles mesmos. Vamos explicar. Bem antes do lançamento do Legends Core (basicamente uma TV box com configuração limitada), a empresa havia soltado a informação de que estavam trabalhando em um novo videogame, afirmando em suas redes sociais, em resposta a um fã, que esse console estaria no mesmo nível do PlayStation 4 e Xbox One. Ora, será que a empresa teria recursos financeiros para competir com gigantes assim? Claro que não. Foi apenas uma brincadeira que muitos acreditaram que poderia acontecer ou interpretaram como um relançamento de um console da Sega (não no nível do PS4 e Xbox One).
Neste vídeo, aos 44:26 fala um pouco deste novo console. Este vídeo é de 2020 e o console ficou prometido para 2021.
Durante todo o período até o anúncio oficial do Legends Core, a Tectoy simplesmente não fez nada em seu marketing. Não promoveu, não explicou como seria esse console, não fez questão de ser transparente, deixando a situação correr solta para gerar engajamento, especialmente entre aqueles que sofrem de uma espécie de anestesia pela nostalgia. A Tectoy mudou, mas quer passar a impressão de que não mudou completamente. E isso não condiz com o comportamento de uma empresa com história no Brasil perante seus clientes. Isso é enganar os saudosistas.
Não há problema algum em apreciar a nostalgia, mas é um problema se apegar tanto a ponto de acreditar que uma empresa lançará, mais cedo ou mais tarde, um console retrô. É nisso que a Tectoy quer prender esse tipo de público. Anunciar em redes sociais que seu “console” será tão poderoso quanto o PS4 e Xbox One, anunciar o “console” e depois passar um longo período sem mostrar nada dele, iludindo os gamers, mencionar uma tentativa de parceria com a Sega que pode muito bem ter sido uma jogada de marketing, responder aos fãs de maneira positiva nas redes sociais quando questionados sobre um relançamento de um Dreamcast.
Recentemente, eles registraram o “Zeenix” no INPI, mais uma vez dando indícios de um novo console, sem ao menos dizer do que se trata, e isso deve continuar até o lançamento, possivelmente em 2025. O que a empresa dirá até lá? Se seguirem o mesmo caminho do Legends Core, não teremos absolutamente nenhuma informação concreta e continuaremos a viver de especulações por parte da mídia e dos fãs sobre se esse novo hardware será um console retrô ou no nível do PS5 e Series. E parece que a empresa pretende seguir essa estratégia. O site TECMASTERS, ao noticiar sobre o ‘Zeenix’, informou ter procurado a Tectoy para obter informações sobre o projeto, mas não obteve resposta. Isso nos leva à conclusão de que a Tectoy quer enganar e decepcionar a galera ao não ser transparente com o público.
Rodrigo Goniadis colabora esporadicamente com textos para a Comunidade Mega Drive, assim como participa do MegaCast, o podcast do canal da Comunidade.
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