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Tec Toy, a sua fundação.

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Decadência

A fundação da Tec Toy

Creio que todo fã de Mega Drive que se preze conhece e já chegou a admirar essa empresa. A Tec Toy, responsável pela distribuição dos produtos SEGA no Brasil, fazia um trabalho de fabricação, divulgação e suporte que rivalizava com o de sua parceira em mercados como o europeu e o norte-americano.

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Quem vê a empresa hoje como mera sobrevivente da derrocada de toda a indústria nacional de eletrônicos, que já sugou companhias como a Dynacom e a Gradiente, não imagina que ela já foi sinônimo de inovação, agressividade e produtos de primeira qualidade (os “tops” de linha). Veja como tudo isso começou.

Da Argentina para o Brasil

No início da década de 70, a Argentina passava pelo período mais negro de sua história. A Ditadura Militar naquele país foi bem mais sombria que a nossa. As pessoas viviam sob um regime de medo, pois podiam tanto “desaparecer” nas mãos do governo quanto acabar vítimas de um ataque feito por guerrilheiros. A vida não era nada fácil.

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Daniel Dazcal, fundador da Tec Toy

Por conta desse ambiente tenso, o engenheiro Daniel Efraim Dazcal não pensou duas vezes quando recebeu uma proposta da Sharp do Brasil para ajudar na implementação de sua linha de TVs. Aceitou o desafio e imigrou. O ano era 1972, data da introdução dos aparelhos em cores no país.

Nossa nação ainda vivia sob a aura do “milagre econômico”, que possibilitou que as pessoas comuns comprassem, pela primeira vez, coisas como carros, televisores e geladeiras. Era uma oportunidade e tanto para a indústria nacional.

A competência de Dazcal não passou despercebida dentro da empresa. Em pouco mais de uma década, ele saiu de uma posição meramente técnica para se tornar superintendente da principal divisão da Sharp no Brasil.

O primeiro contato dele e da equipe de engenheiros que, no futuro, formariam a Tec Toy com os videogames aconteceu justamente nessa companhia. Em 1983, a Sharp introduziu o Mattel Intellivision no mercado nacional. O console, considerado caro para os padrões da época, até que fez um relativo sucesso. No entanto, isso não foi suficiente para competir com o poderio da Atari, representada no Brasil pela Polivox (Gradiente). E eles ainda tinham de concorrer com a Philips, marca de peso no mercado nacional da época, que também distribuía o seu console, o Odyssey² (o mais básico e barato).

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Propaganda do Intellivision

A nova fronteira da eletrônica

Após adquirir experiência na Sharp, Dazcal decidiu que chegara a hora de alçar voo solo. Seu conhecimento do nascente mercado de componentes eletrônicos o fez procurar ramos da indústria em que eles ainda não eram usados e poderiam ser aplicados com melhor resultado.

Depois de pesquisar vários setores, conferir as possibilidades e os concorrentes, ele chegou à conclusão de que os brinquedos seriam a melhor aposta possível para o momento.

tec toyO mercado nacional, na época, era dominado pela Estrela. Uma empresa poderosa, responsável pela distribuição da Barbie, dos Comandos em Ação (G.I. Joe) e de jogos de tabuleiro como o Banco Imobiliário (Monopoly). Ninguém ousava competir com ela.

No entanto, seus diretores não acreditavam no filão de brinquedos eletrônicos e pouco investiam na área. Era nessa brecha que Daniel Dazcal atacaria com sua nova empresa.

Em 18 de setembro de 1987, seria fundada a Tec Toy. E a empresa não ia demorar para começar a fazer barulho no mercado nacional.

Pistola Zillion e Pense Bem: os primeiros sucessos

Tec Toy tentou buscar parcerias com todas as empresas que fabricassem brinquedos de tecnologia mundo afora. Grandes nomes do mercado internacional como a Tiger Electronics, a vTech e a Hasbro foram procuradas. Uma empresa japonesa relativamente pequena, no entanto, se tornaria a grande vedete. O nome dela? SEGA.

Ainda em 1987, os direitos de fabricação e distribuição da pistola Zillion para o mercado brasileiro foram adquiridos. O brinquedo, que obteve sucesso moderado no Japão, acabaria estourando no Brasil graças aos esforços do time de marketing da Tec Toy.

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Embalagem da pistola Zillion

Uma peça publicitária revolucionária para os padrões da época, ao custo de US$ 170 mil (valores bem acima do mercado na época), colocou o produto nas listas de aniversário e Natal de praticamente todas as crianças. Em vez de apenas mostrar crianças demonstrando o brinquedo, como fazia a Estrela por mais de 50 anos, o comercial do Zillion investia em pirotecnia, efeitos especiais e causava grande impressão na pirralhada.

Como se isso não bastasse, a Tec Toy conseguiu vender os direitos do anime baseado no brinquedo para a toda poderosa Rede Globo. No começo de 1988, o império de Roberto Marinho era ainda mais impressionante do que hoje. A novela Vale Tudo, principal atração da época, conseguiu, certa vez, alcançar nada mais que 100% de audiência. No último capítulo dessa novela, o Brasil inteiro parou para ver. Parecia final de Copa do Mundo.

As exibições de Zillion na Globo e, algum tempo mais tarde, no horário nobre da Gazeta, fizeram com que os pedidos pelo brinquedo disparassem. A Tec Toy vendeu mais pistolinhas no Brasil do que a própria SEGA havia conseguido no Japão. E isso numa época em que o mercado brasileiro era ridículo no cenário internacional, bem mais pobre e limitado do que hoje em dia.

E não parou por aí: no meio de 1988, o pequeno “computador” Pense Bem foi lançado. O aparelho, diferente de qualquer coisa que existia por aqui na época, foi sucesso absoluto. Além de possuir joguinhos simples e educativos na memória, ele ainda dava suporte a livrinhos que expandiam ainda mais a diversão.

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Pense Bem

A venda das brochuras de Pense Bem, com temas que variavam desde curiosidades sobre o espaço, dinossauros até produtos licenciados baseados em personagens Disney ou da Turma da Mônica, eram mais significativas do que as do próprio aparelho. O estabelecimento desse tipo de vínculo, que ia além da simples compra do produto, fazia com que a criança quisesse mais livros para ter novas experiências com o seu brinquedo. Era uma estratégia incomum na indústria nacional do ramo na época.

E essa experiência seria fundamental para a entrada triunfal da Tec Toy em um mercado que eles consideravam desde a sua fundação: os videogames.

No final do ano, o Pense Bem ganhou o prêmio de melhor brinquedo de 1988. E, ao contrário de outros produtos nesse mercado, que somem das prateleiras tão logo acaba o modismo (lembre-se de coisas como o Pogobol, o ioiô da Coca-Cola, os bonecos montáveis dos Cavaleiros do Zodíaco ou os skates de dedo, por exemplo), o “computador infantil” da Tec Toy se manteve nas lojas de brinquedo, com sucesso, por mais de 10 anos.

Pense Bem, com caixa, manual e livros

A parceria com a SEGA

Todo mundo aqui se lembra da Tec Toy como distribuidora dos produtos SEGA, certo? Mas não pensem que convencer os japoneses de que o Brasil podia ser um mercado interessante para os seus videogames foi fácil.

Em 1989, já estava mais do que claro que os velhos Ataris já não causavam a mesma impressão no público brasileiro. Os videogames de 8 bits (3ª geração) eram sucesso absoluto em todo o antigo Primeiro Mundo. O Nintendo (NES) era líder absoluto nos EUA e no Japão. A SEGA contra-atacava com o seu domínio do mercado europeu.

Era questão de tempo até que eles chegassem por aqui. Como a lei brasileira, na época, permitia certas atrocidades, até empresas respeitáveis no mercado faziam seus clones (os videogames “compatíveis”). A CCE, a Dynacom e a Milmar tinham o seu Atari falso. E até a Gradiente entraria no jogo.

Dynavision 3, Hi-Top Game, Bit System, Phantom System e Turbo GAme

A primeira a introduzir um console de “última geração” no Brasil foi a Dynacom. Em maio de 1989, eles lançaram o Dynavision II. Por suportar os cartuchos japoneses de Nintendo (60 pinos), não era difícil encontrar jogos pra ele em Ciudad del Este (Paraguai). Em pouco tempo, as lojas ficaram inundadas de piratinhas.

No mesmo ano, a CCE e a Milmar também lançaram os seus produtos: o Top Game VG9000 e o Hi-Top Game (pra você ver como o filme Top Gun era popular na época). Só faltava uma empresa importante pra entrar nesse mercado: a Gradiente.

Ela, como uma marca de respeito na época, inicialmente não queria apelar para os clones piratas. Sua primeira ideia era lançar o Atari 7800 no país. No entanto, a baixa qualidade dos jogos desse console, que não eram muito melhores que os do antigão,  fez com que descartassem a ideia.

Nintendo “deu de ombros”. Para a empresa responsável por Mario e Zelda, só os EUA e o Japão importavam. Tanto que, nos anos 80, eles não ignoraram somente o Brasil. Mercados significativos como o de países europeus e a Austrália também não existiam para a fabricante do NES.

Sobrava a SEGA. A Gradiente chegou até lá com toda a pompa e circunstância. A apresentação foi tão significativa que, por pouco, eles não conseguiram o contrato. Isso só não aconteceu porque existia a Tec Toy.

Mas como uma empresa de brinquedo que não tinha nem 2 anos de mercado conseguiria convencer a SEGA de que ela seria uma parceira importante? Afinal, a Gradiente era líder absoluta no mercado de TVs, videocassetes e aparelhos de som no Brasil.

Para piorar, a SEGA vinha de um trauma no mercado americano. Em 1987, eles deixaram a distribuição do Master System a cargo da Tonka Toys, empresa de brinquedos que era menor apenas que a Mattel e a Hasbro na época. O trabalho de distribuição foi terrível. O console vendeu apenas 1,89 milhões de unidades contra 33 milhões de NES.

Propaganda de Master System nos EUA tão “excitante” quanto um anúncio de banco

Tonka havia acabado de adquirir a Parker Brothers e tinha tantos produtos significativos no mercado que sua parceria com a SEGA era deixada pra escanteio. Os japoneses estavam com medo de que a Tec Toy fizesse a mesmíssima coisa.

Porém, o trabalho impecável feito com a pistola Zillion (da divisão de brinquedos da SEGA) e o fato de ser uma empresa relativamente pequena, inovadora e que sabia se focar em um produto só foi o suficiente para convencê-los. Afinal, na Gradiente, o Master System seria mais um produto no meio de toda uma linha de eletrônicos. Na Tec Toy, ele seria a estrela principal.

Tec toy

Arnhold (Tec Toy) e Nakayama (SEGA) comemoram o sucesso da parceria

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