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Entrevista com Tom Kalinske – parte 2

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Bom galera, lançando a segunda parte da entrevista com o mito Tom Kalinske! Claro espero que tenham gostado da primeira.

Alguns me perguntaram como é o Tom Kalinske, como foi a recepção. Bom, quando entrei em contato com ele, claro que foi uma pessoal muito formal. Fiz uma breve apresentação de quem eu era e qual o objetivo do contato, comentei algumas coisas mas quando enviei a primeira parte das perguntas para ele entender como seria a entrevista, as coisas mudaram. Acredito que ele deve ter pensado: “poxa esse pessoal sabe o que está perguntando e sabe até algumas coisas mais peculiares. Vou dar atenção”

A partir daí nossa conversa passou a ser de duas pessoas que já se conheciam normalmente e se falavam corriqueiramente.

Na primeira tentativa de entrevista, infelizmente Tom Kalinske teve um problema em casa e não pode participar. Como ele conseguiu falar comigo somente um dia depois até lá acabei achando que estava “nos deixando de lado”. Mas respondi a ele agendando novamente a data e horário e não obtive retorno.

Quando eram por volta da meia-noite, (eu já deitado, quase dormindo) meu celular começa a tocar. Levanto xingando, afinal quem gosta de quase dormindo ter que atender o telefone. Quando pego e atendo, Tom Kalinske, me perguntando: “Cade você? Não vamos fazer nossa conversa?”. Respondi já saindo correndo pro quarto do PC, ligando ele. Falei me dá dois minutos que chego. Liguei pro Helder: Acorda!! Vamos que o Tom ta esperando a gente.

Tom é uma pessoal que aprecia uma boa conversa, falou até de coisas pessoais e em nenhum momento colocou panos quentes em algo, expressando sua opinião sincera.

Então vamos começar. Espero que gostem tanto quanto a primeira parte.

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Helder: Próxima pergunta. A maioria dos jogadores acreditavam que aqueles que trabalhavam no mercado de vídeo games estavam apenas jogando vídeo games. Naturalmente, isso não é verdade, mas você tirava um tempo para jogar um pouco, mesmo que fosse só para entender o mercado melhor? No caso de jogar só por diversão, do que você gostava mais?

Tom: Bem, eu não era um grande jogador de vídeo games, mas eu realmente jogava. Eu realmente gostava do Sonic The Hedgehog. Eu ainda jogo Sonic 2. É meu jogo favorito. Gosto de jogos de esportes. Gosto do jogo de futebol do Joe Montana e eu gosto do John Madden também. Eu gosto de jogar jogos de beisebol. As pessoas não percebem como são feitos grandes jogos de esportes.

Os desenvolvedores têm que aprender com os jogadores profissionais. E aprender como colocar um espiral na bola quando eles a atiram para fazer uma curva e aprender os diferentes hábitos dos batedores. Bater no escanteio de dentro com uma bola curvada. Entende? Muita coisa para fazer um grande vídeo game. Você tem que replicar a vida nele. É real. É como estar em um esporte real de verdade. Eu sei que E.A. está fazendo um ótimo trabalho com o Fifa Soccer.

É a mesma coisa, atentar para os detalhes que os muitos jogos de esporte. Então eu curto muito jogos de esportes, eu curto o Sonic The Hedgehog bastante. Também gosto dos jogos mais simples, por exemplo, o Tetris e Columns, esses tipos de jogos. Ainda gosto do Candy Crush, esse tipo. Eu nunca joguei jogos de luta, tanto quanto meus filhos. Meus filhos jogam muito jogo de luta.

Propaganda em revista dos jogos

Carlos: Eu imaginava que seria o Sonic 2 por causa da moldura. (Risos). Mas você ainda joga hoje?

Tom: De vez em quando. Não tão frequente mais. Hoje em dia é mais difícil para mim. Provavelmente vocês não ficaram sabendo, mas eu tive um derrame cerebral onze meses atrás que afetou meu lado esquerdo. Eu não consigo mais usar minha mão esquerda muito bem. Eu posso movê-la mas não posso senti-la. Então é muito difícil jogar com controles manuais agora para mim.

Helder: Eu sei que é difícil. Quando soubemos do derrame, todo mundo ficou um pouco triste, porque você é um grande nome da Sega. Quando soubemos disso, e quando eu posso vê-lo agora saudável, muito bem, isso é incrível!

Tom: Mas eu não posso sentir minha mão ainda. (Risos). Eu tive que reaprender a andar, porque não sentia minha perna. Se você não sente sua perna é muito difícil para andar. Eu treinei muito para poder fazer as coisas, eu posso comer, etc. Eu não sinto meus dedos de jeito nenhum. Isso não é muito bom quando você está cozinhando. Você coloca a mão no fogão quente, num prato quente. Você não sabe até sentir o cheiro de seus dedos queimando. (Risos).

Tom publicando o Sonic B-Day em seu Twitter

Helder: Você tem que tomar muito cuidado sempre.

Tom: Sim. Eu sei. Tenho sido cuidadoso o tempo todo.

Carlos: Eu estava em dúvidas de como você estaria. É muito bom ver que você está muito bem.

Tom: Muito obrigado, eu me sinto bem.

Helder: Uma das melhores coisas desse ano é te ver, como meu modelo, saudável e bem. Alguns caras da Nintendo podem torcer o nariz por isso. Mas eu me sinto muitíssimo feliz com isso. Você sabe. Você é tipo uma lenda daqui. Em qualquer assunto sobre jogos retrô nas comunidades sobre as Guerras dos Consoles, eles falam sobre o presidente da Nintendo, Shiguero Myamoto. Então nós dizemos “Tom Kalinske” e eles congelam. (Risos). Porque é um nome muito poderoso na indústria. Não sei como você sabe sobre o próprio nome, mas ele se tornou um tipo de metralhadora para caras da Nintendo. Quando ouvem o nome de Thomas Kalinske eles ficam preocupados. Meu Deus, esse cara era muito poderoso. (Risos).

Tom: (Risos) É bom ouvir isso. Eu encontrei Myamoto San alguns anos atrás. E claro, ele é um ótimo desenvolvedor de jogo, é fantástico. Nós falamos dos detalhes e como fazer as coisas corretamente. Eu realmente o admiro.

Carlos: Próxima pergunta. Sabendo sobre o contrato de exclusividade que os escritórios de software tinham com a Nintendo, como foram as negociações com a Capcom para trazer a franquia do Street Fighter para o Mega Drive, neste caso, Street Fighter II – Special Champion Edition?

Tom: Você sabe, todas as negociações foram muito difíceis, porque nós todos tínhamos medo da Nintendo. Se você é um editor terceirizado, você precisa da Nintendo. Eles alocavam quantos cartuchos de jogos que você precisava para seu jogo. Eles diziam o que estava no topo, qual deveria ser publicado ou não. E os editores tinham medo de que se eles publicassem pela Sega, seriam punidos pela Nintendo.

Todas as negociações, sejam da Capcom, ou até mesmo a E.A. pois ainda não estavam fazendo nada pra Nintendo. As desenvolvedoras japonesas, em particular, estavam com muito medo de serem punidas pela Nintendo. Levou muito, muito tempo para negociar com eles. Tivemos que ter um acordo especial. Foi um pouco melhor para Nintendo, não para nós mas para eles. Foi mais lucrativo para eles para divulgar do que para a Sega. E claro, nós também teríamos que ter mais unidades de hardware no mercado antes que eles tivessem.

Era como “pintinhos nos ovos”. Porque eles desenvolveriam recursos para os programas dos jogos tão importantes para Genesis ou Mega Drive, se não levássemos hardwares suficientes no mercado. Nós tivemos que provar primeiro que nossas vendas aumentavam cada vez mais. E a conversação tornou um pouco mais fácil. Mas eles ainda temiam, então tivemos que oferecer a eles mais lucros para que eles do que ganhariam com a Nintendo. Nós prometemos ajudá-los com seus produtos.

Propaganda do Street Fighter II – Special Edition

Especificamente com a Capcom Special. Eu não tive essa discussão. Meu braço direito era um rapaz chamado Shinobu Toyoda. Ele quem realmente teve a negociação e discussão, por muito tempo antes deles concordarem. E claro, a razão pela qual eles concordaram era porque o jogo era ligeiramente um pouco diferente. Não era o mesmo jogo da Nintendo. Era uma Champion Edition exclusiva da SEGA Genesis. Isso é, era um acordo que veio em dólares e centavos no mercado mundial. Toda essa conversação foi muito difícil para realizar.

Helder: Eu me lembro disso. Há uma história pessoal sobre essa negociação. Minha família, meus primos e amigos mais próximos aqui no Brasil compraram o Super Nintendo System por causado Street Fighter. Eu disse que iria esperar pelo Street Fighter II no Mega Drive, no Genesis. E de alguma forma, algum tempo depois apareceu no meu sistema. Eu não me lembro quanto tempo levou, mas quando o jogo veio, eu me tornei um tipo de “Superman”. (Risos). Isso não podia mais me parar porque eu tinha o jogo. Ele era absolutamente incrível. Tudo o que você tinha no CPS Matching, que era Arcade, nós tínhamos no Mega Drive. Eles tentavam minimizar o jogo. O sistema era errado, a voz não era tão boa, o som não era tão bom. Da mesma forma eu defendia o sistema. Você disse que não era possível. As revistas especializadas aqui no Brasil diziam que isso não era possível. Que a Genesis, Mega Drive não podia fazer tal jogo. Que o sistema SNes era muito avançado e eu não acreditava nisso. Desde o começo eu não acreditava em nada que as revistas diziam naquele tempo. Sou muito grato a você e ao seu time, ao Toyoda, a todos pelas negociações para trazer a nós esse jogo maravilhoso da Capcom.

Nilssen, Toyoda e Kalinske

Tom: Obrigado. O cérebro principal do Genesis Mega Drive era o chip 68000 da Motorola, e claro, ele era muito poderoso. Sua capacidade nos permitia fazer ótimos jogos. Era mesmo chip usado nos computadores da Apple.

Helder: Era usado na indústria Arcade também.

Tom: Sim.

Helder: Então o aporte se tornou algo acessível, mais fácil de converter. O SNes tinha um pouco mais de dificuldade, porque nós sabemos agora, que o microchip Ryco era muito bom de se trabalhar nele. E algumas pessoas só perceberam agora, que na verdade Ryco era muito difícil de trabalhar. E que a Sega era bastante boa para lidar com isso, para processar o microchip.

Tom: Está certo.

Carlos: Podemos ir para a próxima pergunta?

Tom: Sim.

Helder: A Sega está trazendo muitos jogos que eram do Mega Drive para as plataformas atuais com compilações para consoles jogos em smartphones, etc. Mesmo sabendo que os jogos atuais para PS4 e Xbox One são de qualidade gráfica e som muito superior. Em que você credita esse retorno aos jogos retrô? Você acha que isto é possível para a Sega retornar ao mercado de consoles?

Tom: Primeiramente, estou muito satisfeito em ver e surpreso com a volta dos jogos antigos. Os jogos retrô se tornando populares é gratificante que isto está acontecendo. Eu sei que muitas pessoas estão jogando esses jogos antigos em seus Iphones e eu adoro isso. Isso mostra o que fizemos naquela época.

Nós fizemos grandes jogos. Sentimos bem em jogá-los. Eles são fáceis de jogar, fáceis de se interessar e começar a jogar e ficar cada vez mais difícil. Estou realmente grato em trazerem esse projeto, porque significa que os rapazes fizeram um trabalho excelente no início do desenvolvimento. É surpreendente quando você pensa que 25, 30 anos atrás foram feitos. Eles ainda estão disponíveis hoje como você disse. Os sistemas gráficos e habilidades tão incríveis.

Com os novos jogos você não pode dizer se é um jogo ou um filme que você está assistindo. É tão realista. Mas se a pessoa aprecia um jogo do passado é porque os caras que trabalhavam neles eram muito bons mesmo. Essa parte me fez sentir muito bem.

Agora respondendo sua pergunta na Sega, eu acredito que isso é possível quererem voltar no mercado de hardware, fazer uma máquina. Francamente, eu acho que se tiverem a chance de trazer uma nova máquina que tiver a capacidade de ser construída por eles também. Será uma forma deles voltarem para o mercado.

Eles não têm essa intenção, mas acho que eles podem. Eles têm ótimos engenheiros lá. Ótimos jogos. Acho que isso seria uma possibilidade para eles. Meus amigos me dizem que eles não têm inclinação para isso de jeito nenhum.

Sketch

Helder: Isso é uma pena. Eu gostaria muito de ver um Dreamcast II ou outro console. Acredito no poder da Sega, em sua história. Alguns meses atrás, nós tivemos um grande evento de jogadores, aqui no Brasil, chamado BGS (Brasil Game Show). Nós fomos a algumas lojas de jogos retrô e os donos disseram que a diferença entre os fãs de Nintendo e dos fãs da Sega é muito incomum.

Os fãs da Sega procuram por muitos jogos. Eles vêm para as lojas e querem jogar Golden Axe, querem jogar Hang On, querem jogar Streets of Rage, muitos outros títulos. Os fãs do Nintendo só querem jogar Mario, Donkey Kong. Sega tem muitas opções e títulos para trazer para as pessoas do passado. 25 anos atrás nós tínhamos muitos títulos e os caras da Nintendo não tinham.

Hoje em dia, podemos ver isso. Por isso, eu acredito. Sega, a três anos atrás trouxe uma pesquisa em formato de quiz perguntando que tipo de jogo você preferia em qual plataforma para o mercado futuro. A lista era extensa. Nós tínhamos Golden Axe, Golden Axe 2, série Shinobi, muitos títulos que eram muito poderosos naquele tempo no Genesis, no arcade.

Acho que foram bem-sucedidos. Seria uma grande ideia promover isso de novo. Por isso, os jogos aparecerem no mercado de Steam e de PC’s com que a Genesis colecionou no mundo. Foi um grande acordo na indústria.

Tom: Eu ainda vibro com os títulos. Isso é fantástico. Quando eu olho a lista e vejo que venderam milhões de unidades. O número é enorme. Você está certo. Isto é ótimo.

Carlos: Esta é minha opinião, mas acho que a Sega do Japão não quer.  Quem trouxe esses jogos retros foi a Sega da Europa. Parece duas empresas separadas.

Tom: Eu acho que você está certo sobre isso. Os Estados Unidos e a Europa foram muito mais bem-sucedidos que a Sega do Japão. Por isso o motivo dos ciúmes.

Helder: É o que já dissemos antes sobre o ciúme. Infelizmente isso causou uma ruptura na indústria de muitos jogos, desenvolvedores, programadores. Por causa desse sucesso, os Estados Unidos e a Europa tornaram o Japão meio cinza.

Nós sabemos que você teve um rompimento com o Japão. Um jogo novo completamente diferente na mídia dos Estados Unidos. Uma arte conceitual ótima. Mas quando você pega um jogo do mercado americano, você sente algo que possa descrevê-lo no primeiro momento. Algo confiante. O poder de jogo em suas mãos. Você vê o jogo. No Japão você tem que interpretar ou entender o jogo primeiro. Isso é muito incrível no mercado americano.

Tom: Eu acho que você está certo. Isso é uma vergonha. Bem, há muitas coisas que eu acho uma vergonha. (Risos). Mas a Sega ainda continua aqui, muito poderosa.

Cenas da entrevista

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Aqui concluímos nossa segunda parte da entrevista. Logo teremos nossa terceira parte.

Fiquem ligados! Se gostou compartilhe, deixa o like e comente aí.

E se não leu ainda a Parte 1 é só clicar aqui.

Leia a terceira parte!

Grande abraço

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