Toda vez que eu vejo um site de vendas escrever NOSTALGIA nalguma parte do produto, já fico com o pé atrás, principalmente em empresas que, em seu passado, podem ter feito algo de bom para toda uma turba de gamers, mas, hoje em dia, é apenas uma sombra daquilo que já foi.
Utilizar-se da palavra Nostalgia, pegar a bengala deste sentimento e empurrar quaisquer coisas para que os nostálgicos venham a consumir de maneira descabida é, para mim, só mais uma forma de tentar conseguir dinheiro fácil dos bolsos dos incautos.
Conseguir arrecadar mais alguns milhares de reais para sustentar uma empresa moribunda e que, ano após ano, vem demonstrando perdas inadmissíveis de lucratividade e uma falta de visão de futuro ímpar. Mas, ainda assim, VAMOS IMPORTAR PRODUTOS DE UMA OUTRA EMPRESA, DIZER QUE É TECNOLOGIA NOSSA E VENDER CARO PORQUE, EM SUA MAIORIA, OS NOSTÁLGICOS SÓ QUEREM MESMO É COMPRAR E DEIXAR NA PRATELEIRA QUE É MAIS BONITO.
Se você tem, pelo menos, uma década de casa na internet, no momento que sai um produto “novo” destas empresas, na hora percebe-se que o produto em questão não é nenhuma novidade, já foi lançado, relançado e ficou encalhado, só que agora tem uma possibilidade maior de tirar o produto do estoque e fazer que, com o uso da nostalgia, tudo seja vendido – quem sabe até lucrando sobre isso!
Não estou dizendo que é errado lucrar com aquilo que lhe tem no estoque, nenhuma empresa é uma organização sem fins lucrativos e a nossa filosofia econômica prega que: vou você lucra, ou você se fode e, nesta questão, não tenho nada contra a empresa.
Mas faça-se justo o que é para os justos. Não venda um produto por aquilo que ele não o é. Num dado momento, no blog da empresa em questão, questionei o fato dos mesmos estarem vendendo o Atari Flashback 8 como sendo deles, apesar do produto ter sido projetado e produzido pela AtGames e qual foi a resposta?
“Tecnologia da empresa X”. Claro que a pessoa por detrás do perfil da empresa pode – e nem deve – saber quem eu sou. Para muitos sou apenas um hater da empresa que só quer fazer ela falir, como se uma pessoa só pudesse fazer isso. E que não veem que apenas estou destacando a verdade por detrás dos produtos da empresa que utiliza em todos os seus projetos atuais apenas aquilo que já foi criado pela AtGames basicamente.
Em pleno 2018, com os 29 anos de lançamento do Master System no Brasil, “relançar” um Master System portátil que já é vendido lá fora pela AtGames, pela Blaze Games e tantas outras por um valor absurdo é de cortar o coração de muitos fãs deste adorável console de 8-bit da SEGA.
Pedir basicamente R$ 400,00, onde o Mega Drive 2017 está sendo vendido por R$ 379,00 é algo completamente sem pé e nem cabeça. Pedir nostalgia por um produto que, oficialmente, vale em torno de £29.98 – numa conversão direta está em torno de R$ 161,50 e com, digamos, 50% de imposto ficaria em torno de R$ 243,00 e isto estamos calculando a compra de pessoa física. Pessoas jurídicas tem maiores abatimentos tanto na compra quanto na importação – levando em consideração que o escritório da empresa fica em Manaus e lá ela tem incentivos fiscais.
Um lucro exorbitante em nome da nostalgia em um produto que não vale nem nota de rodapé na história do Master System, mas que, ainda assim, a empresa vende como algo inédito em solo brasileiro, como consta na descrição do mesmo.
A Tectoy, a única empresa licenciada oficial dos produtos Master System® no Brasil, apresenta pela primeira vez um novo formato do clássico título Master System. O videogame que foi um sucesso no final dos anos 80 agora em uma versão portátil. Nesta versão compacta, para ser levada para qualquer lugar, você vai curtir grandes jogos clássicos da Sega como Alex Kidd in Miracle World, Alien Syndrome, Altered Beast, Sonic the Hedge Hog e mais Sonic Drift 2, uma versão do Sega Game Gear. Além disso, essa versão tem vem com 8 dos melhores jogos da Taito: Bubble Bobble, Chase H. Q., Rainbow Islands, Rastan Saga, Renegade, Special Criminal Investigation, Super Space Invaders, The New Zealand Story. Demais não é? Nostalgia pura, agora na sua mão!
E observem, esta empresa ainda tenta empurrar outros dois produtos que, pelo visto, continuam encalhados, que são o Master System Evolution e Master System Plug and Play. Se ela quer vender nostalgia, comece a tratar corretamente os fãs destes consoles, a começar, garantia de um ano e não aquilo que é estabelecido no CDC, como mostrado abaixo:
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
I – trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;
II – noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.
§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços.
Se o Código de Defesa do Consumidor tivesse como disposição no item II apenas 10 dias, certamente este seria o prazo de garantia que esta – e tantas outras empresas, dariam por seus produtos.
Então, empresa que está utilizando-se da AtGames para dizer que estão desenvolvendo produto próprio, não façam isto. Sejam justos para com os consumidores. Enganar, além de errado, é sujeito a punição de acordo com o Código de Defesa do Consumidor.
Vender produtos com nostalgia é apelar, por demais, para o emocional das pessoas que, induzidas a algo que parece maravilhoso, acabam comprando gato por lebre.
Seje melhor Trecotoy, seje melhor. Eu poderia ir além desta empresa, indo para outras que fazem o mesmo – e ainda se justificam por serem amadores -, ou ir para o caso dos colecionadores profissionais que vendem por aí dizendo: “Só quem é colecionador sabe o valor do produto em mãos”, mas isto fica para um outro texto.
Para comprar no ebay e um review feito sobre o produto em inglês. Produto criado pela AtGames.
