Ultimate Qix foi o único jogo 100% original que eu tive. Minha mãe comprou achando que era Truxton, que eu adorava e já tinha jogado muito. Ela errou, mas nem por isso deixei de jogar ou apreciar esse game que era tão diferente do habitual que se tornou bem difícil para mim na época, e que dediquei vários dias na empreitada de chegar ao final do desafio. Acabei dando meu cartucho original com manual e tudo para o Celso Affini, meu amigo e colecionador, pois eu não sou colecionadora, eu gosto apenas de jogar e por isso tinha tantos games piratas e hoje uso muito os emuladores.
Então, vamos começar. Na época em que joguei Ultimate Qix, eu não tinha muita noção da história. A animação do começo mostrava uma nave indo para um planeta, que obviamente não era a terra, e então o jogo começava com você, no controle do seu personagem, uma diminuta nave espacial que só podia se movimentar pela borda da tela. Demorei para descobrir que havia um comando para sair da beira e invadir o espaço do “alienígena” que ficava voando no centro. Logo também percebi que se ele tocasse a linha que você criava ao cortar o espaço, você era destruído, e que cada pedaço cortado revelava outro cenário (ou mundo) logo abaixo. Eu tinha o manual do jogo e o ignorei completamente, tamanho era o meu hábito de ter jogos piratas ou de locadora, e ter de adivinhar o que fazer.
Hoje eu sei a história real. Que você é um viajante intergaláctico que está voltando para sua terra, Volfied, e a encontra sob ataque alienígena. O povo se escondeu no subsolo e você tem de ir abrindo caminho até lá para salvar a todos da ameaça do espaço. Na época, tudo que eu sabia era que, cortando o espaço eu destruía os monstros e que no final alguém precisava ser salvo. Eu me senti totalmente impelida a ajudar o piloto da nave, principalmente porque ela era tão minúscula perto dos aliens que chegava a ser injusto. Para ajudar nosso caro piloto em sua pequena “navinha” (hehehe), havia várias estratégias.
A técnica que eu mais usava era a das “armadilhas”. Eu morria de medo de cortar grandes pedaços do espaço. Eu achava os inimigos muitos rápidos e algumas vezes muito numerosos para isso. Então eu ia construindo pilares, tanto na vertical quanto na horizontal, e deixava uma abertura para o inimigo entrar, esperava ele entrar na armadilha e fechava ela bem depressa, e assim reduzia a área dele ou até muitas vezes o derrotava. Derrotar o inimigo implicava em cortar mais de 90% da tela. Ao fazer isso, ele era destruído.
Outra técnica era a de ir fatiando a tela. Essa já exigia mais coragem, pois normalmente o primeiro corte era na vertical, bem no meio da tela, Depois na horizontal, na metade que havia sobrado. Nem sempre o inimigo permitia isso, então, o negócio era ir cortando blocos de espaço e assim, ir encurralando o inimigo num canto. Efetivo, mas exigia um pouco mais de paciência do que a técnica da armadilha.
Agora, a derradeira técnica ninja deste jogo, era capturar mais de 90% da tela com apenas um corte, ou seja, circular o inimigo quando ele estivesse parado em um canto, e terminar a fase em apenas um movimento. Não é uma missão impossível a lá Chuck Norris, aliás, é a maneira mais fácil e rápida de terminar o jogo, mas exigia saber o movimento de todos os inimigos praticamente de cor e saber exatamente a área que você podia cortar o mais próximo dele, sem tocá-lo, pois tocar o alien era sinônimo de explodir e perder vidas. Não é muito emocionante para quem assiste, mas para quem joga é muita adrenalina!
Nesse jogo não temos um personagem bem definido (que seria o piloto). Temos a nave, que é a nossa ferramenta para cortar as áreas e chegar ao subsolo de Volfied para salvar a galera que está lá, refugiada. O que temos de mais variado são os inimigos alienígenas. Mas, até uma determinada fase. São 16 estágios, mas temos apenas 8 aliens, sim, porque da fase 9 em diante eles se repetem, só mudam de cor e de quantidade de “ajudantes” na tela. Mas esses 8 aliens são bem legais, eu curto muito eles. Alguns são bem orgânicos, parecendo mesmo seres vivos de outros planetas, outros parecem robôs malignos e alguns ainda se parecem mais com naves espaciais. Todos eles tem algum tipo de arma e disparam contra você na partida, mas nem todos tem “ajudantes”. Esses pequenos bichinhos têm várias formas, alguns voam de forma indefinida pela tela, outros têm um movimento definido, voando em zig zag pela tela. Eles têm o mesmo efeito sobre a nave do que os alienígenas principais: explodem a nave se tocarem na sua linha de corte.
A jogabilidade de Ultimate Qix era boa, mas poder cortar apenas na vertical e na horizontal, na hora do desespero e da adrenalina, era fogo. Você via o momento de fazer o corte, saía da sua linha segura ao redor da área, e de repente se via forçado a abortar o corte. Era possível voltar pela linha, só não era tão fácil na hora do susto! Quantas vezes, ao invés de voltar, eu cortei para o lado e fui atingida? Quantas vezes eu esqueci que não se pode sobrepor as linhas de corte e fiquei exposta tempo demais? Quantas vezes eu superestimei o tempo que tinha para cortar e fui pega no meio do caminho? É, a pobre nave ouviu poucas e boas muitas vezes por causa destes descuidos.
Foram muitos dias na companhia do valente piloto em sua pequena nave, cortando o caminho em direção ao centro do planeta, enfrentando todo tipo de alienígena do mal apenas para salvar os conterrâneos. Mas valeu a pena, os cenários, inimigos e os pequenos detalhes de Ultimate Qix fazem dele um jogo bem diferente, e por isso mesmo ótimo de se jogar.
P.S.: Ultimate Qix foi inspirado em um jogo de arcade chamado Volfied (ahááá!) e é a versão de Mega Drive dele, que ainda conta com “ports” com o nome Qix para: Atari (5200, 400/800 e Lynx), Apple II e IIGS, Commodore 64, DOS, Amiga, Game Boy e NES. Depois ainda teve o Qix Neo para PlayStation One. =D
Texto original de Alissa Machado